Por Bruna Miyuki
Foto Bruno Codogno
O anfiteatro lotado ouvia estático as palavras de Evandro Teixeira. A atenção era interrompida apenas por risos que decorriam dos comentários bem-humorados do fotojornalista. Aos 84 anos, Teixeira acumula prêmios e exposições pelo mundo todo por fotografias de importantes momentos históricos do país. Na semana passada, ele esteve em Londrina na VII Semana de Comunicação para a palestra “A fotografia no contexto da história”.
Na data da palestra faziam exatamente 55 anos da tomada do Forte de Copacabana -em 1 abril de 1964- que marcou o início da ditadura militar e cujos únicos registros são de Evandro Teixeira. No dia em que se instituiu o período de 21 anos da ditadura militar brasileira, iniciou-se também o regime que renderia algumas de suas fotos mais famosas. Os registros da Passeata dos Cem Mil, o militar caído atrás de uma moto, as libélulas sobre as baionetas e o estudante de medicina perseguido pela polícia são algumas delas.
A ditadura pelo olhar de Teixeira
Quando perguntado sobre qual imagem da ditadura mais lhe impactou, ele fecha os olhos por alguns segundos e responde com naturalidade “Teve tanta coisa”. Ao final, confessa que não foi uma fotografia sua que mais lhe chocou e sim a de Silvaldo Leung Vieira; a famosa foto do falso suicídio de Vladimir Herzog. Ao rememorar os pedidos recentes de retorno à ditadura militar, Teixeira leva a mão à boca em um gesto de consternação. “Eu não sei o que tem acontecido com o povo brasileiro” ele pondera. A voz sempre calma, mas forte, caminha por entre vários temas e tempos.
Apesar da repressão da ditadura, ele não tinha medo e chegou a ser preso por uma noite. “Eu fiquei lá preso, tomando café”, conta rindo. O general Costa e Silva pretendia lhe ensinar uma lição por ter dado maior destaque a libélulas sobre baionetas do que à fotografia do presidente. Levou alguns tapas, mas reconhece sério que sua experiência não foi comparável ao sofrimento de outros jornalistas presos e torturados pela ditadura. “Ah, eu não media. Fiz cada coisa. Maluquice, maluquice”, Teixeira balança a mão no ar como se desse bronca em seu eu mais jovem. Mas relembra orgulhoso alguns ossos quebrados que lhe valeram boas fotos. “Eu fazia com a alma, com o coração. Minha arma era essa”, ele levanta a câmera e leva aos olhos no gesto natural que lhe acompanha há tanto tempo.
Sobre a mesa ao lado repousa sua jaqueta que hoje só serve para impedir o frio. Mas antes ela era o esconderijo de sua Leica, câmera famosa por ser eficiente e compacta. Hoje, outro modelo mais moderno está suspenso em seu pescoço. Ele sorri como se fosse óbvio quando é perguntado sobre o que lhe faz escolher algo para fotografar. A resposta é curta. “Tudo”. Enquanto repousa a mão sobre a câmera com o mesmo afeto que seu amigo Jorge Amado tinha aos gatos, o fotógrafo que já trabalhou com esportes, moda, política e cultura declara firme que não tem uma área preferida do jornalismo, mas admite “Eu gosto é de estar na rua com o povo”.




