Esta reportagem é a primeira da série Mulheres em Movimento, publicada semanalmente na Alma Londrina Rádio Web. A proposta é abordar as conquistas e desafios da atuação feminina no meio acadêmico, na cultura, na política e na militância. O título nasce da convergência de duas importantes escritoras feministas; Bell Hooks: “É preciso movimentar-se para além da dor”. E como não poderia deixar de ser, Ângela Davis: “Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”. A série de reportagens Mulheres em Movimento é sobre aquelas que se movimentaram para além da dor, aquelas que se comprometem a movimentar toda a estrutura da sociedade.
Por Bruna Miyuki e Tamiris Anunciação
Fotos Bruno Codogno
É impossível abordar o tema sem relembrar a luta de Marielle Franco, vereadora e militante executada em março de 2018 no Rio de Janeiro. A morte de Marielle obrigou muitas mulheres a se movimentarem, como é o caso de Ângela Leonardo. Ângela se recorda de acompanhar a notícia do assassinato pela televisão. Ela nunca havia se engajado ativamente em nenhum coletivo feminista, até que em novembro de 2018 fundou, em conjunto com outras mulheres, o Coletivo Classista Marielle Franco. O coletivo nasceu da necessidade de se organizar para entender e atuar na realidade que as circundava.
Realidade na qual, segundo o Datafolha, 536 casos de violência contra a mulher são registrados por hora. A morte da militante carioca, foi o início da articulação feminista de Ângela. “Esse exemplo, chegar a essa posição e resistir foi plantando nas mulheres a necessidade de organização. Não dá mais para ficar assistindo TV enquanto mulheres são assassinadas e estupradas a cada minuto”, conta Ângela que se emociona ao lembrar de Marielle.
A semente da militância
Muitas jovens que sentiam a necessidade de aprofundar seus conhecimentos nas questões feministas e se organizar na defesa de seus direitos se uniram ao coletivo, como é o caso de Paula Teodoro. “Sempre tive aspirações feministas, mas eu não tinha muita noção do que realmente era uma luta engajada do feminismo. Com o passar do tempo, com o cenário político se agravando, eu senti necessidade de não só saber mais, como também me inteirar da luta”, contou Paula. Ela aprofunda o tema no podcast de Tamiris Anunciação, confira abaixo.
Para a jovem Ariane Rigate que faz parte de um projeto de pesquisa sobre movimentos sociais e um grupo de estudos de ciência política na América Latina, o coletivo tem sido um importante espaço de militância. “Estamos tentando ser mais ativas dentro da universidade e das comunidades também, realizando trabalho de base mesmo. Além de ajudar a fortalecer movimentos já existentes, como o 8-M (movimento feminista de Londrina)”, conta ela.
O Coletivo Classista Marielle Franco integra o quadro de coletivos feministas de Londrina, os quais tem se juntado em ações de protesto, debate e incentivo do crescimento da pauta feminista na cidade. Atualmente, há mais de dez coletivos londrinenses. Da execução de Marielle ainda perdura a pergunta: “Quem mandou matar?”, mas de sua vida permanece a luta pelo movimento das estruturas da sociedade.