Arrigo Barnabé retorna a Londrina com show e lançamento de livro

Arrigo
Arrigo

Por Christina Mattos e Ranulfo Pedreiro
Todos por 1 Assessoria em Comunicação
Foto Gal Oppido

Os fãs da obra do londrinense Arrigo Barnabé terão uma agenda intensa essa semana. O compositor estará na cidade a partir de quinta-feira, dia 27, para o lançamento de um livro com textos autobiográficos e toca no Teatro Ouro Verde na sexta, dia 28, com o show Quero que tudo vá pro inferno. O show é uma realização do projeto Circulasons da musicista e pesquisadora Janete El Haouli.

NO FIM DA INFÂNCIA

Uma Londrina estranha e caipira, cenário para uma sensibilidade infantil quase delirante. A primeira professora de piano e uma apresentação surreal tocando caixa de guerra com a fanfarra do Colégio Marista. A mudança para uma assustadora São Paulo, um show histórico com Alice Cooper, um encontro marcado com Tom Jobim. E os bastidores da criação de uma obra prima: Clara Crocodilo.

Essas são apenas algumas das memórias registradas em No Fim da Infância, livro de estreia do músico londrinense Arrigo Barnabé que a Grafatório Edições, também de Londrina, lança no dia 27 de junho. O lançamento será às 19h30 na Vila Cultural Grafatório (Av. Paul Harris, 1575), e vai contar com a presença do próprio Arrigo, que irá participar de uma sessão de autógrafos e de um bate-papo com o público.

O conjunto de nove textos autobiográficos revela ao leitor passagens curiosas e fundamentais da vida desse criador genial, que nos anos 1980 revolucionou a música nacional ao trazer elementos da música erudita contemporânea para o território da MPB. Publicados originalmente nas revistas piauí e Calibán, os textos também são uma porta de entrada para se compreender o movimento musical conhecido como Vanguarda Paulistana, que tem suas origens na Londrina dos anos 1970.

Uma Londrina estranha e caipira, cenário para uma sensibilidade infantil quase delirante. A primeira professora de piano e uma apresentação surreal tocando caixa de guerra com a fanfarra do Colégio Marista. A mudança para uma assustadora São Paulo, um show histórico com Alice Cooper, um encontro marcado com Tom Jobim. E os bastidores da criação de uma obra prima: Clara Crocodilo.

Essas são apenas algumas das memórias registradas em No Fim da Infância, livro de estreia do músico londrinense Arrigo Barnabé que a Grafatório Edições, também de Londrina, lança no dia 27 de junho. O lançamento será às 19h30 na Vila Cultural Grafatório (Av. Paul Harris, 1575), e vai contar com a presença do próprio Arrigo, que irá participar de uma sessão de autógrafos e de um bate-papo com o público.

O conjunto de nove textos autobiográficos revela ao leitor passagens curiosas e fundamentais da vida desse criador genial, que nos anos 1980 revolucionou a música nacional ao trazer elementos da música erudita contemporânea para o território da MPB. Publicados originalmente nas revistas piauí e Calibán, os textos também são uma porta de entrada para se compreender o movimento musical conhecido como Vanguarda Paulistana, que tem suas origens na Londrina dos anos 1970.

QUERO QUE TUDO VÁ PRO INFERNO

Arrigo Barnabé ainda era adolescente quando trabalhou durante as férias escolares e economizou dinheiro para comprar o LP Jovem Guarda, de Roberto Carlos. Cinco décadas depois, Arrigo volta a Londrina com o show Quero que vá tudo pro inferno, recheado de canções inesquecíveis da dupla Roberto e Erasmo Carlos. A apresentação será realizada no dia 28 de junho, às 20hs, no Teatro Ouro Verde, pelo projeto circulasons, coordenado por Janete El Haouli e patrocinado pela Cacique Companhia de Café Solúvel, Cosan, Uniprime Cooperativa de Crédito e Midiograf.

No repertório, músicas famosas como Se você pensa, Sua estupidez, Gatinha manhosa e Detalhes foram recriadas por Arrigo Barnabé, cantor de voz nervosa que conquistou reconhecimento nacional no 1º Festival Universitário de MPB da TV Cultura, realizado em maio de 1979, quando venceu com a canção Sabor de Veneno. A conquista, considerada o marco zero da Vanguarda Paulista, está completando 40 anos. No ano seguinte, em 1980, Arrigo lançou o LP Clara Crocodilo (1980), que trouxe à MPB e ao rock brasileiro as inovações e ousadias da música contemporânea.

Para unir esses dois universos – o experimentalismo de sua obra e a popularidade da Jovem Guarda, Arrigo alterou compassos e andamentos, adaptando-os ao seu próprio universo. No palco, o cantor estará ao lado dos experientes Paulo Braga (piano) e Sérgio Espíndola (violão).

ENTREVISTA COM ARRIGO BARNABÉ

Como era a Londrina onde o jovem Arrigo Barnabé conheceu a Jovem Guarda?
ARRIGO BARNABÉ – Eu morava ali na R. Paranaguá, quase esquina com a R. Sergipe. Era tudo casa, não tinha prédio. Era um lugar muito tranquilo. Eu tive uma infância privilegiada, brincava na rua. A gente ficava na rua até à noite. Não tinha televisão, a televisão chegou mais ou menos na época da Jovem Guarda, em 1964, por aí. A gente escutava mais o rádio. E tinha o cinema, o Ouro Verde, o Augustus, o Cine Joia, Cine Londrina e Cine Brasília. O Vila Rica ainda não existia. Eu estudava música no Conservatório do Colégio Filadélfia. Nesse período, tinha alguns amigos. O Valter Luís Guimarães fazia inglês comigo. Tinha o José Carlos Souza Neves, o Zé Bita, que depois virou travesti. Enfim, tinha uma turma de adolescentes, mas todo mundo low-profile, bem tranquilo, ia à missa aos domingos, essas coisas. Quando o Roberto Carlos apareceu, a gente ainda não prestava muito a atenção. Escutava as músicas na rádio, mas não prestava muito a atenção. Eu estudava piano, então tinha um pouco de noção. Eu lembro que umas primas vieram passar as férias de julho em Londrina e Roberto Carlos veio fazer o show no Colossinho. O Colossinho era um ginásio de esportes que tinha junto com o Colégio Filadélfia. A gente comprou os ingressos e foi para o Colossinho. E o Roberto não chegava… O avião atrasou, deu algum problema. Finalmente ele chegou, duas horas depois, sei lá. A gente não escutava direito, era até um pouco frustrante. No ano seguinte, quando saiu o LP Jovem Guarda, quando saiu Quero que vá tudo pro inferno, era uma coisa incrível. Meu pai tinha um cartório ali no Fórum, ele era escrivão da 2ª Vara Cível. Eu trabalhei para ele nas férias e, com o meu salário, dava para comprar um LP. Fui numa loja do Centro Comercial. E fiquei entre o Jovem Guarda e o Dois na Bossa nº1, com a Elis Regina e o Jair Rodrigues. Eu estava começando a perceber que existiam programas estéticos na música. A MPB de Elis e Jair era um programa estético. A Jovem Guarda era outro programa estético. Mas eu fiquei escutando os dois e não tinha jeito, comprei o Jovem Guarda, porque era irresistível. E eu escutei bastante. É engraçado, dentro deste LP eu percebi que existiam algumas coisas que saíam do programa estético da Jovem Guarda. Eu já percebia que Gosto do jeitinho dela, que é uma das faixas, era uma coisa diferente, era cantada baixinho. Eu percebia que, na Jovem Guarda, a pessoa não precisava cantar com tanta voz. Porque tinha a influência do João Gilberto, que era influenciador do Roberto Carlos. A gente dançava essas músicas. Eu me lembro do dia em que o Erasmo Carlos lançou Gatinha Manhosa, eu escutei pela primeira vez no rádio, em casa, tinha um quartinho nos fundos onde a gente estudava. Eu me lembro de escutar e depois dançar Gatinha Manhosa. Quando eu estreei o show aqui em São Paulo, há dois anos, foi difícil fazer, porque eu me emocionava.

Existiam algumas bandas de Jovem Guarda na cidade, você se lembra?
ARRIGO BARNABÉ – Tinha, a gente assistia um programa da Regina Delalibera que se chamava Ala Jovem. Ela fazia uma espécie de Wanderléa. E eu lembro que existiam algumas bandas… Os Cinco Falcões, com duas meninas tocando… Depois teve o Oswaldo Diniz e a Maria Lúcia Diniz, que montaram alguns programas na televisão, também. Era uma coisa diferente, a Maria Lúcia dava aula de música. E tinha o irmão deles [Edson Diniz]. Eles eram em três. Uma família que agitava bastante aí. Foi um período curto, mas na minha lembrança é enorme. Foram três ou quatro anos no máximo.

Você falou da questão estética entre a Jovem Guarda e a MPB quando ficou entre os dois discos… Se você tivesse escolhido o disco da Elis e do Jair, você acha que teria outro tipo de influência?
ARRIGO BARNABÉ – Não, porque eu ouvia em outros lugares. Não era uma troca. Eu gostava dos dois. Eu adorava Elis cantando Arrastão. Isso deve ter sido em 1966, eu acho, quando teve o festival com Arrastão. Eu adorava aquilo. Gostava muito. Mas o Quero que vá tudo pro inferno era irresistível. Tinha coisas estranhas no disco, ele cantava um fado, Coimbra. Não tinha unidade. Tinha o Gosto do jeitinho dela, que é uma coisa da Bossa Nova. Havia coisas estranhas ali no meio.

São canções fortes, uma ligação direta com o sentimento… Você sente isso?
ARRIGO BARNABÉ – Olha, eles fazem uma coisa muito popular. Eu falo eles, porque é o Roberto e o Erasmo. Não tem uma preocupação que não seja afetiva. Comentam as relações afetivas tentando ser contemporâneos. Existia um comentário sobre relacionamento afetivo anterior, mas que já era de uma outra geração, de uma outra sociedade. A sociedade estava mudando, os costumes estavam mudando, e eles estavam percebendo isso. Estavam atentos à afetividade do momento, em como as pessoas estavam se relacionando. A preocupação sempre era o relacionamento amoroso, 95% das canções falam disso.

Como foi colocar o Arrigo dentro dessas músicas que todo mundo conhece, todo mundo canta?
ARRIGO BARNABÉ – É difícil, porque todo mundo conhece bem. Em 1985, depois de ter feito Tubarões Voadores, eu tinha que fazer um segundo LP pela [gravadora] Ariola. E eu queria fazer um LP de intérprete, não iria compor. Iria gravar, entre outras coisas, Quero que vá tudo pro inferno. E o Itamar [Assumpção] fez um arranjo, um baixo para Quero que vá tudo pro inferno e me mostrou. Eu iria gravar também Chove Chuva, do Jorge Ben, e Lábios que beijei, de J. Cascata e Leonel Azevedo… Mas eu comecei a filmar o Cidade Oculta, e o filme tinha um orçamento muito baixo, eu estava atuando como o protagonista do filme. E eu coloquei o meu segundo disco para a Ariola como sendo a trilha do filme. Não havia dinheiro, a produção era precária. Todo mundo entrou com uma parte do salário para dedução, e recebeu bem menos do que iria receber. E a Ariola pagou a parte musical. A coisa do Roberto Carlos ficou. Mas eu sempre pensei nisso, sempre achei muito interessante esse universo. No começo dos anos 2000, eu escutava e pensava: “Pô, mas isso é que é música popular”. Todo mundo entende, não tem código escondido, não tem nada. É um negócio claro. Eu sempre cantei essas coisas de brincadeira, em reunião com amigos, sempre fiz isso. Vi que as pessoas gostavam, achavam legal. Sempre toquei Vem quente que eu estou fervendo em casa, no piano, com minha característica mais marcante, que é essa voz gritada.

E essa voz gritada veio junto com Clara Crocodilo?
ARRIGO BARNABÉ – É, isso tem a ver com locutores de rádio, com programas de crime. E a gente escutava o rock, Janis Joplin, Joe Cocker… Disfarça a minha desafinação.

Você já tentou fazer uma música que tentasse essa comunicação direta da Jovem Guarda?
ARRIGO BARNABÉ – Suspeito é uma música que tem a ver com o estilo do Roberto e do Erasmo, com certeza.

O fato de essas canções serem muito populares gera algum tipo de preconceito?
ARRIGO BARNABÉ – Tem preconceito para tudo, né? Na época, o pessoal de esquerda achava que o pessoal da Jovem Guarda era alienado, tinha uma coisa assim. Mas eu estou falando de um momento. Eu acompanho mais o Erasmo. As coisas que o Roberto Carlos tem feito, os últimos discos dele, eu não escuto. Estou falando de um período que vai até 1980.

Você vai lançar o livro No fim da infância no dia 27… É cheio de memórias, não é?
ARRIGO BARNABÉ – É um livro basicamente de memórias. Acho que tem duas crônicas que são ficção. Esse material é todo publicado. São textos relacionados com a cidade [Londrina]. Eu falo sobre quando o Psicose, do Hitchcock, estreou em Londrina. Os pais foram assistir, e eu e meus primos ficamos na casa de uma tia. E eu lembro das impressões dos pais quando voltaram, comentando sobre o filme. É uma coisa ligada com a cidade. Tem uma outra crônica em que eu falo quando o meu primo começa a tocar acordeom, o Felipe, e a casa do meu avô ficava atrás da Catedral. Falo de lugares da cidade.

É uma memória bastante sentimental, não é? Como é voltar para Londrina e tocar aqui?
ARRIGO BARNABÉ – Faz muito tempo que eu não toco em Londrina. A última vez foi em 2010, no Valentino [Arrigo Barnabé deu uma aula show no Londrix – Festival Literário de Londrina – em 2012]. Depois disso não toquei mais, agora que me convidaram. O normal seria fazer um show aí a cada quatro anos. Eu tive em Londrina em janeiro ou fevereiro, passei uma semana filmando com o [cineasta] Rodrigo Grota. As memórias, quando elas batem com a realidade, com a transformação que a cidade sofreu, não resistem. É tudo completamente diferente. Tem, ainda, o Rodeio, aquele restaurante no centro… A Igreja da Imaculada Conceição… Até a própria Catedral mudou, era muito mais bonita.

Você está compondo? Como estão seus projetos?
ARRIGO BARNABÉ – Eu estou escrevendo uma missa para o Coro da Osesp [Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo] que vai estrear em novembro, tenho que entregar neste mês, estou na correria… Já escrevi o Gloria e o Kyrie, agora tenho que escrever o Credo, Sanctus e Agnus Dei. Estreia no dia 2 de novembro, na Sala São Paulo.

Você tem muita coisa para ser gravada?
ARRIGO BARNABÉ – Eu tenho. Tenho um programa que escrevi para um grupo de percussão português, da Cidade do Porto, que se chama Drumming. Eu escrevi 1 hora para eles de música. A primeira parte chama-se Caixa da Música, é uma suíte com cinco peças; e depois tem Out of Cage, também uma suíte com oito peças. Isso é inédito, não está gravado. Tem coisas para piano, algumas eu escrevi inclusive para o Rodrigo [Grota], para um filme dele, que não estão gravadas. Tenho coisa para piano e percussão, para orquestra, quarteto de cordas. Depois eu fiz também as óperas. E vai sair meu filme: Amigo Arrigo [de Alain Fresnot e Júnior Carone], é um longa-metragem sobre o meu trabalho.

O que está te surpreendendo hoje na música?
ARRIGO BARNABÉ – A gente tem um salto de qualidade de intérprete, tanto na área erudita quanto popular, com cantores muito bons. De 2000 para cá, foi uma coisa brutal, em termos de qualidade dos instrumentistas e dos cantores. Um negócio impressionante. Em Londrina tem vários grupos que eu escutei, é um pessoal muito bom. As pessoas têm mais acesso às escolas de música… Você tem a própria Sala São Paulo, a Osesp, enfim, várias iniciativas, como os pontos de cultura, ligadas a leis de incentivo… As coisas vão ficando acessíveis. As universidades começaram a ter cursos de música, antes não existiam. Era um aqui e um em Salvador… E tem a internet. A gente não sente esse salto de qualidade na parte da composição. Os jovens compositores são bons, interessantes, competentes, nenhuma crítica à qualidade do que eles fazem, mas nessa área criativa o salto de qualidade não foi igual ao salto que ocorreu na área dos intérpretes.

SERVIÇOS
Lançamento: No Fim da Infância
Sessão de autógrafos + Bate-papo com Arrigo Barnabé
27 de junho, quinta-feira, 19h30
Vila Cultural Grafatório (Av. Paul Harris, 1575)
Valor do livro: R$65
Entrada livre

ENCONTRO COM ARRIGO
Um dos objetivos do projeto Circulasons é estabelecer a troca de ideias e informações entre os artistas convidados, o público e os produtores culturais da cidade.

Por isso, no dia 28 de junho, será realizado o Encontro com Arrigo Barnabé e sua Música, às 10hs, no Sesi/AML (R. Maestro Egídio Camargo do Amaral, 130, em frente à Concha Acústica).

As vagas são limitadas e as inscrições podem ser feitas pelo e-mail janete.haouli@hotmail.com pelo valor de R$10. Apoio: SESI.

Show Quero que vá tudo pro inferno – Com Arrigo Barnabé (voz), Paulo Braga (piano) e Sergio Espíndola (violão).
Dia 28 (sexta-feira), às 20hs, no Teatro Ouro Verde (R. Maranhão, 85).
Ingressos à venda na Sympla (www.sympla.com.br), Ciranda (R. Pref. Hugo Cabral, 656), Brasiliano (R. Espírito Santo, 655) e bilheterias do Teatro Ouro Verde.
Os ingressos custam R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia).

 

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