O Cientista na Cultura Pop. No podcast Scientia Vulgaris de hoje pela Alma Londrina Rádio Web abordamos o estereótipo do cientista e as consequências desta construção imagética.
Por André Bacchi.
Já reparou que em boa parte dos filmes e séries, o cientista é um cara mais velho, excêntrico, solitário, ranzinza e genial? Do “De volta para o futuro” ao “Rick and Morty”, esse é um dos principais estereótipos que encontramos na cultura pop. Um estereótipo que afasta o cientista do indivíduo “normal”, que coloca a ciência em um lugar inacessível e que contrasta com a pluralidade e diversidade que existe nos cientistas e na ciência real.
Em outros casos, cientistas da ficção são tão malucos e megalomaníacos que podem criar monstros (como Dr. Frankenstein), provocar o fim do mundo pela criação de uma inteligência artificial como a Skynet, ressuscitar dinossauros e depois perder o controle sobre eles.
Há, ainda, situações ficcionais nas quais o cientista é tipo um profeta da desgraça. Ele acaba sabendo de antemão o que vai acontecer, tenta avisar o mundo, mas geralmente não dá mais tempo de fazer nada. Serve apenas para provocar histeria na população.
E talvez o mais preocupante seja a figura do cientista/personagem cético. Embora em nosso mundo o ceticismo seja a postura racional que mais trouxe avanços por intermédio da ciência, no universo ficcional isso se inverte. Na ficção, onde o sobrenatural é o lugar-comum (onde vampiros vivem entre nós, por exemplo), o cético é, no mínimo, ingênuo. Acaba duvidando da sua realidade sobrenatural e é quem atrasa a descoberta da “verdade”. E geralmente com uma postura teimosa e arrogante, pouco carismática.
Essa visão popular do cético, dentro de uma cultura New Age e na era da pós-verdade que vivemos, recheada pela crença no sobrenatural moderno, pode trazer consequências problemáticas para a credibilidade da ciência. Quando o sobrenatural é a estrela, o cientista se torna o vilão. O mesmo cientista que irá tentar orientar a população em como agir frente uma pandemia ou a se vacinar, por exemplo.
E assim temos o triste contraste em que se espera que o cientista real seja excêntrico e genial e resolva os problemas do mundo num passe de mágica (como quando encontra a cura milagrosa ao final do filme), mas ao mesmo tempo é chato e não confiável, pois antagoniza o suposto sobrenatural que permeia o nosso mundo.
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