Sem limites e o mito do uso de 10% do cérebro. Neste episódio do podcast Scientia Vulgaris nós analisamos o filme e a relação que ele estabelece com esta máxima sobre a utilização da capacidade cerebral.
Confira:
Por André Bacchi.
No filme “Sem limites” (Limitless, 2011), Bradley Cooper interpreta um escritor que está sofrendo de um sério bloqueio criativo, até que reencontra seu ex-cunhado, que lhe apresenta um medicamento capaz de desbloquear 90% da capacidade cerebral (levando o escritor a atingir 100% de sua capacidade).
Ele passa a se lembrar de tudo que já leu, ouviu ou viu em sua vida. Consegue aprender outras línguas, fazer cálculos complexos e escrever muito rapidamente. Quem não iria querer isso? Ser um Bradley Cooper “super gênio”?
Porém, aí estão duas coisas igualmente improváveis de acontecer comigo ou com você:
1) Ser o Bradley Cooper e;
2) Tomar um medicamento mágico que libera os outros 90% de capacidade cerebral “adormecida”.
O item 1 é um pouco óbvio por isso vou me ater ao item 2.
10% do cérebro
O filme “Sem limites” se baseia na falsa premissa de que usamos apenas 10% da nossa capacidade cerebral. É uma ideia tentadora pensar assim, pois dessa forma, todos nós seríamos de alguma forma gênios com um potencial latente, esperando para ser despertado.
Sinceramente não sei de onde tiraram o valor “coach quântico” de 10%. Deve ser porque é um número agradável e redondo. Exames de imagem já demonstraram que coisas muito simples como movimentar as mãos ou escrever algumas palavras deste texto requerem muito mais que apenas uma décima parte do cérebro esteja ativa. Até sem fazer nada, o cérebro continua trabalhando para controlar a respiração, atividade cardíaca, memória etc.
Em termos de número de neurônios, também é muito improvável que haja 90% de neurônios puramente ociosos esperando para trabalhar. Até porque, células sem função alguma costumam ser eliminadas. É claro que o cérebro é mutável e fazemos novas conexões diariamente, ainda que estejamos perdendo muitos neurônios por dia. Aprendemos coisas novas todos os dias. Formamos novas memórias. Conseguimos inclusive nos adaptar a situações extremas. Essa é a magia das neurociências.
Talvez o combustível que alimenta esse mito seja a nossa ânsia por sermos melhores. E nós podemos fazer isso com esforço, dedicação e com as ferramentas corretas. Só não acontecerá milagrosamente com uma pílula mágica desbloqueando um potencial místico adormecido.
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